A primeira vez que prestei mais atenção em Eduardo Riedel, ele fez a abertura de um evento do filósofo Mario Sergio Cortella. Para um público “selecionado”, o então secretário palestrou e falou sobre sua trajetória como herdeiro à frente da fazenda Sapê. O assunto, para alguém como eu, é meio “blé”, mas ali eu vi que não era falácia que aquele riquíssimo fazendeiro poderia vir a ser um dos principais nomes da política sul-mato-grossense.
Inicio este artigo falando sobre minha experiência pessoal porque pode ser parecida com a de muitos aqui do nosso Estado e também de outras partes do país. Primeiro você vê um homem comum, um nepo-rico que tem sobrenome de difícil pronúncia.
Mas, ao conversar algumas vezes com Eduardo Riedel, meus amigos, a percepção muda. Riedel é descendente de alemães. Contido, discreto, pai de família, educado, humor peculiar e sempre ouvindo mais do que falando. Desde que assumiu, Mato Grosso do Sul parece não ter nem problemas.
Vaga em hospital? Isso é problema da prefeitura. Segurança? Não, aqui nossa polícia não dá trégua para bandidos. Educação? Gente, tem escola de autoria. Meio ambiente? Bora parar todas as queimadas e fazer a lei do Pantanal. Mesmo que o Pantanal continue pegando fogo (como está), ninguém pode dizer que ele “não agiu”. Ao mesmo tempo, defende o agro sem ofender os ambientalistas. E todos ficam felizes.
Riedel não sobe o tom; as redes sociais vão desde conquistas governamentais até vídeos do filho gato, da família típica de propaganda de margarina e declarações de amor para a esposa Mônica. A vida foi tão perfeita no roteiro para ele que até o casal que ele forma tem nome de música e de filme.
E isso o ajudou a ser o que é hoje: governador de um Estado próspero sem nunca ter sido nem vereador. Nesse momento aparece o mais perspicaz amante eleitoral dos últimos anos na história de MS.
Riedel é um mestre na arte do breadcrumbing. Não conhece o termo? Breadcrumbing é uma forma de manipulação, intencional ou não, que acontece quando alguém dá a uma pessoa um pouco de atenção, apenas o suficiente para mantê-la interessada ou presa ao relacionamento, sem nenhuma intenção de realmente se comprometer.
Política e eleição são uma forma de relacionamento e, na arte de manter as pessoas interessadas eleitoralmente, Riedel é um mestre, né, gente? Ele, que sempre se apresentou como um cara do agro e da direita, conseguiu conquistar de forma gritante a galerinha da esquerda que brada contra o agro e não tem a mesma complacência com Tereza Cristina, por exemplo.
Tanto que, no segundo turno das eleições de 2022, a turma ‘do petê’ pediu voto para ele como se fosse o próprio Lula, mesmo com Eduardo correndo atrás de Jair Bolsonaro e posando sorridente ao lado do inimigo nº 1 da esquerda. Tem gente que alega que o adversário dele era pior ainda, mas o brilho no olhar sempre denuncia que ali tem algo mais.
Após Lula ser eleito, Riedel ficou então mais contido com a galera da direita; afinal, o jogo agora era outro. Mas bastou ser chamado de melancia e outros adjetivos típicos da extrema-direita que vai lá o Riedel e se posiciona de forma incisiva, como se nem conversasse com a turma vermelhinha.
Tanto que é possível ver no mesmo dia Riedel sendo anunciado como articulador do apoio de Bolsonaro a Beto Pereira na eleição da prefeitura da Capital, ao mesmo tempo em que está em Corumbá acompanhado das ministras Marina Silva e Simone Tebet.
Ou como ontem, quando estava lá, Eduardo Riedel no anúncio do bilionário Plano Safra do governo Lula e, logo em seguida, teve mais uma reunião com Jair Bolsonaro e Valdemar da Costa Neto em Brasília.
O afago gera resultado.
Quando ficam falando que ele não está na campanha de Beto Pereira, de repente ele aparece firme no lançamento de pré-campanha, num esforço intermitente de demonstrar que sim, ele está ali. Entra mudo e sai calado. Sorri e acena.
E quem disser que Riedel não está na campanha estará redondamente errado. Afinal, olhe as imagens. Ele estava lá.
O mesmo acontece com a prefeita Adriane Lopes, do PP de Tereza Cristina. Tereza é da turma do agro também. Adriane não. Mas é prefeita da Capital e está no jogo eleitoral ainda. Riedel faz o quê? Posa ao lado de Adriane, coloca vídeo nas redes sociais e mantém firme a parceria Governo/Prefeitura, deixando claro que é um gestor, um técnico que virou governador.
Não sou especialista em comportamento, mas acredito que conheço um tico de relacionamento nesses 44 anos de vida e muitos de terapia para entender as relações humanas que me cercam. Por isso tive a audácia de escrever esse artigo.
Nos meus vinte anos de jornalismo diário, já vi muito político conquistar pessoas e poder. Alguns de forma mais populista, como foi o caso de Zeca do PT, ou mais truculenta, como André Puccinelli (com Osmar Jeronymo). Também tem o jeitão voraz de Reinaldo Azambuja (com Sérgio de Paula).
Agora, Eduardo Riedel inaugurou a era dos “não políticos”. Ou seja, aquele que é técnico, faz questão de ressaltar isso, apesar de nos bastidores articular tudo milimetricamente com base na arte da política. Alguém que fala “veja bem” quando vai discordar, porque é um lorde alemão. Ou que simplesmente responde uma mensagem de WhatsApp do nada, como forma de dizer: “viu, eu te dei atenção”.
E assim ele vai se cercando de gregos e troianos, de mamando a caducando, de esquerda e de direita, moderados e do centro. Num resultado impressionante, para quem disputou há pouco menos de dois anos a primeira eleição.
Bem ao estilo Tribalistas, Eduardo passeia como um grande amante eleitoral.
“Eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo me quer bem…”