Na quinta-feira (21), a Polícia Federal formalizou o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), do general Braga Netto (PL) e de mais 35 indivíduos, sob suspeita de envolvimento em crimes como abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
O relatório da investigação, que contém 884 páginas, foi encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal) e será analisado pelo ministro Alexandre de Moraes. Com o indiciamento, a PF detalhou os crimes que os investigados teriam cometido com base nas provas coletadas durante a apuração.
Este é um marco histórico, pois é a primeira vez que um ex-presidente eleito no período democrático é indiciado por tramar contra a democracia do país. A reportagem está em busca de contato com as defesas de Bolsonaro, Braga Netto e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
Detalhes da investigação
As investigações revelaram que os indiciados se organizaram em grupos com funções específicas, o que possibilitou a “individualização das condutas e a confirmação da existência de diferentes núcleos”, de acordo com a PF. Entre esses núcleos, estão os responsáveis por disseminar desinformação e atacar o sistema eleitoral, bem como aqueles que incitavam militares a participar do golpe de Estado. Também foram identificados núcleos jurídicos, operacionais de apoio às ações golpistas e de inteligência paralela.
Lista dos indiciados
- Ailton Gonçalves Moraes Barros, capitão reformado
- Alexandre Castilho Bitencourt da Silva, coronel
- Alexandre Rodrigues Ramagem, ex-diretor-geral da Abin
- Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha no governo Bolsonaro
- Amauri Feres Saad, advogado e suposto autor da minuta golpista
- Anderson Gustavo Torres, ex-ministro da Justiça no governo Bolsonaro
- Anderson Lima de Moura
- Angelo Martins Denicoli
- Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-ministro-chefe do GSI
- Bernardo Romão Correa Netto
- Carlos Cesar Moretzsohn Rocha
- Carlos Giovani Delevati Pasini
- Cleverson Ney Magalhães
- Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira
- Fabrício Moreira de Bastos
- Filipe Garcia Martins
- Fernando Cerimedo
- Giancarlo Gomes Rodrigues
- Guilherme Marques de Almeida
- Hélio Ferreira Lima
- Jair Messias Bolsonaro, ex-presidente
- José Eduardo de Oliveira e Silva
- Laercio Vergilio
- Marcelo Bormevet, agente da PF
- Marcelo Costa Câmara, ex-assessor de Bolsonaro
- Mario Fernandes, general da reserva
- Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
- Nilton Diniz Rodrigues
- Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, neto de ditador e ex-comentarista da Jovem Pan
- Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa no governo Bolsonaro
- Rafael Martins de Oliveira, tenente-coronel
- Ronald Ferreira de Araujo Junior, tenente-coronel
- Sergio Ricardo Cavaliere De Medeiros, tenente-coronel
- Tércio Arnaud Tomaz, ex-assessor de Bolsonaro
- Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL
- Walter Souza Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro e candidato a vice em 2022
- Wladimir Matos Soares, policial federal
Próximos passos
O próximo passo envolve o STF encaminhar o relatório à PGR (Procuradoria-Geral da República). A PGR analisará as informações levantadas pela polícia e decidirá sobre eventuais denúncias contra os envolvidos. A expectativa é que o procurador-geral, Paulo Gonet, apresente a denúncia apenas no próximo ano, devido ao extenso volume de informações e à complexidade do caso. Até o momento, a PGR não se manifestou.
A investigação coletou mensagens de celular, vídeos, gravações e depoimentos da delação premiada de Mauro Cid, além de uma série de documentos. Em quase dois anos, a equipe da Diretoria de Inteligência da Polícia Federal obteve provas que incluem uma minuta de decreto golpista para declarar “Estado de sítio” no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e um vídeo de uma reunião ministerial em que Bolsonaro sugere a necessidade de agir antes das eleições.
Citação de Jair Bolsonaro em reunião
“Se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil.”
A PF também recuperou diálogos com conteúdo golpista e ouviu testemunhos que corroboram a delação de Mauro Cid. Comandantes do Exército e da Aeronáutica no governo Bolsonaro relataram à PF que o presidente apresentou a minuta golpista, com apenas o então comandante da Marinha, Almir Garnier, indicando apoio à ideia. Chamado a depor sobre a questão, Garnier optou por permanecer em silêncio.
Planos mais graves
Entre os planos investigados, havia até a proposta de assassinato de Lula, Alckmin e Moraes. Estratégias detalhadas foram encontradas no HD do general da reserva Mario Fernandes, um dos detidos na operação da PF, que investigava tentativas de militares de assassinar os políticos.
O documento recuperado pela PF mencionava explicitamente a intenção de assassinar o presidente e o vice eleitos, além de delinear cenários de possíveis reações populares e riscos, incluindo uma lista de armamentos a serem utilizados contra o ministro do STF.
A investigação também revelou que assessores de Bolsonaro colaboraram na disseminação de ataques às urnas. Para a Polícia Federal, a estratégia de questionar a legitimidade das eleições fazia parte do plano militar golpista.