Às vésperas do julgamento Christian Leitheim Campoçano e Stephanie de Jesus da Silva, acusados pela morte da pequena Sophia de Jesus Ocampo, de apenas 2 anos, em janeiro de 2023. O pai da menina, Jean Ocampo e o pai afetivo Igor de Andrade, abriram o coração sobre o que representa o julgamento e tudo que ele pode trazer a tona nesta quarta-feira (4) a partir das 8h no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul em Campo Grande (MS).
Em uma carta aberta, os dois afirmam que a luta não vai acabar, uma vez que além da morte da filha, eles enfrentaram também ataques homofóbicos e toda omissão estatal que envolveu o caso. Leia abaixo a íntegra da carta:
“Nossa luta é por justiça verdadeira, para que a verdade venha à tona e os réus respondam por seus crimes cruéis e desumanas. Tirar a vida de uma bebê de apenas 2 anos e 7 meses é uma crueldade sem tamanho, e tentar se esconder atrás de desculpas esfarrapadas para parecer inocente é não só covardia, mas também um sinal de desrespeito com a dor que nos causaram.
Nossa batalha não é apenas contra os autores diretos desse crime, mas também contra um estado omisso, um município que falhou conosco e que agiu de forma homofóbica ao ignorar nosso pedido de socorro. Não olharam para nós, dois pais gays, como responsáveis que buscavam proteger sua filha, e sim como alvos de preconceito. Não salvaram nossa pequena de uma casa cheia de agressores, torturadores e pessoas maldosas.
Lutamos contra o Conselho Tutelar que preferiu colocar seus dogmas religiosos acima da vida da nossa filha, simplesmente por sermos uma família gay. Lutamos contra a delegacia especializada em defesa de crianças, contra os profissionais que atenderam nossa filha no UPA e não acionaram a polícia, contra todos que falharam em protegê-la. Todos esses omissos deveriam estar no banco dos réus.
Nossa luta não termina nos dias 4 e 5 de dezembro. O vazio e a dor de não termos nossa filha conosco nos acompanharão para sempre.
Nesse caminho, enfrentamos não só a dor, mas também comentários maldosos, ataques homofóbicos (chegando ao ponto de registrar boletim de ocorrência), religiosos nos condenando por sermos gays e nos dizendo que iríamos para o inferno. Lidamos com autoridades que perseguem nossa advogada – uma mulher que dedica sua vida à luta contra crimes contra mulheres e crianças – ao ponto de fazerem notas de repúdio simplesmente porque ela ousa dizer a verdade.
Enfrentamos ainda a defesa dos acusados adiando o júri com estratégias baratas, usando desculpas apelativas e até desrespeitando quem faz tratamento psicológico, tudo para tentar livrar a acusada do crime que cometeu.
Mas nada nos parou, e nada nos parará. Nossa luta é pela justiça. Pela nossa filha. Por tudo o que ela sofreu e por tudo o que deixaram de fazer para protegê-la.
Justiça será feita.
JustiçaPorSophia
Jean Carlos OCampo
Igor de Andrade Trindade