Aparecido Portela, o Tenente Portela, é um dos investigados pela Polícia Federal pelo planejamento de um golpe de Estado que acabou no indiciamento de 37 pessoas, inclusive o ex-presidente Jair Bolsonaro. No relatório final, Portela é citado como investigado e “amigo próximo” do ex-presidente, tanto que, conforme os registros “realizou ao menos 13 (treze) visitas no mês de dezembro de 2022 ao então presidente JAIR BOLSONARO, o que evidencia a proximidade de ambos”.
Em uma das conversas interceptadas, Portela, que é suplente da senadora Tereza Cristina (PP) reclamou para Bolsonaro de toda a bancada do PL, além de chamá-la de “perseguidora” e cogitar renunciar ao cargo de suplente, quando foi então prontamente repreendido. Subserviente, o militar da reserva pediu “perdão”.
“Falei pro Rodolfo, se vocês acharem por bem, pode me expulsar do PL. Ou se achar que é conveniente, eu vou lá e desfilio. Não tem problema. E se tiver que renunciar também o cargo de suplente. Não tem, não tem problema porque o cargo de suplente é do senhor”, disse ele em um trecho do áudio que foi transcrito pela PF. Em 2022, o nome do “amigo” de Bolsonaro, foi uma das imposições para que a chapa do PL apoiasse a então candidata ao senado Tereza Cristina e também ao governador Eduardo Riedel (PSDB).
No áudio, Portela reclama que está “apanhando”. “Eu estou apanhando, apanhando da Teresa, apanhando do PL, né? Por causa que eu fui colocado como suplente. Então aqui é, apanha, apanha do de um, apanha do outro lado, apanha, apanha de Rodolfo, apanha do coronel David, apanha de Neno Razuk, apanha de Pollon, apanha do grupo da Teresa Cristina. Tenho apanhado. Eu tenho ficado quieta em casa. Entendeu? Mas tem hora que não dá, porque partem pra humilhação. Que eu tinha ido lá até na prefeita, a troco de de serviço. Eu fico no, no cabo do Guatambu, né?”, afirmou.
Dizendo “ser humano”, Portela então fala que não se importaria de ser expulso do partido ou mesmo renunciar. “Se eles quiserem me expulsar. Se quiserem que eu vou lá desfiliar. Se quiserem que eu vou renunciar. E vou lá fazer isso aí. Não tem problema não. Mas não pode é fica inventando coisa que eu não fiz. Eu to desempregado? Tô, mas tô trabalhando na minha chácara. Então, essas coisas…”, continuou.
Foi nesse momento, que ele então chama a senadora de “perseguidora”, por ela ter Eu tinha uma filha que trabalhava no estado, a Tereza tirou. A Tereza persegue mesmo. Mas tá bom… Faz parte da política… Agora, o que eles não podem é partir pra humilhação. E é o que tão fazendo, é humilhação. E ai eu não aceito, prefiro ficar fora. Entendeu? Que Deus abençoe! Me perdoe ai!”, choraminga.
Com pouca paciência, Bolsonaro ordena que ele não fale em renúncia. “Esqueça um pouco a política, vá pescar”, determina, ao passo que ele responde pedindo perdão.
Em outro momento, após perceber que foi ‘enganado’ por Mauro Cid, com quem falava sobre as ações sobre a tentativa de golpe, Portela demonstra preocupação em devolver parte do dinheiro que teria sido pego para o “churrasco”, como eles chamavam o intento golpista.
De acordo com o relatório da PF, no dia 12 de janeiro de 2023, em função da resposta eloquente dada pelas instituições para combater os atos antidemocráticos, o investigado passa a se desesperar: ‘‘pessoal está em cima de mim aqui, infelizmente vou ter que devolver a parte desse pessoal, minha vida está um inferno”, reclama para Mauro Cid, dizendo ainda que tentaria pagar os valores de forma parcelada, mas que não teria cargo algum e que tentou pegar um empréstimo consignado, mas que não teria margem suficiente. Cid diz a ele que enviou resposta no aplicativo SIGNAL, o que, para a PF, indica o cuidado que ambos teriam para não serem descobertos:
“Os diálogos demonstram a atuação do mesmo [Tenente Portela] como agente intermediário de arrecadação e financiamento de ações antidemocráticas que resultaram no episódio do 8/1/2023. Assim, tem-se que a gravidade das condutas identificadas em relação ao investigado Aparecido Portela (Tenente Portela) são relevantes do ponto de vista penal, uma vez que atuou como elo de financiamento entre apoiadores da causa golpistas e os interesses do núcleo mais próximo do então presidente Jair Bolsonaro”, aponta o relatório.
E outro medo dele, era ser identificado por participação nos atos terroristas no dia 8 de janeiro. Conforme o relatório da Polícia Federal, além de arrecadar recursos e sugerir linhas de ações para atuação, era demonstrada a preocupação dele com as denúncias com relação aos ataques de 8 de janeiro, quando enviou mensagens com prints para Mauro Cid. As mensagens partiram do perfil da deputada federal sul-mato-grossense Camila Jara que no X (Twitter) passou a buscar informações sobre “golpistas” e pedia para que enviassem dados por mensagem direta.
O plano golpista
Com a derrota de Bolsonaro, grupo golpista parte para outras frentes de ação. Segundo a PF, a atuação incluiu desde o questionamento do resultado perante o TSE, até a elaboração de uma minuta para decretar “Estado de Sítio” no Tribunal Superior Eleitoral e a eliminação de Alexandre de Moraes e do presidente eleito e seu vice, Lula e Alckmin respectivamente.
Objetivo do grupo golpista era atuar em duas frentes, diz a PF. Por um lado, o objetivo era manter um discurso para inflamar os apoiadores mais radicais ao mesmo tempo em que militares e auxiliares civis de Bolsonaro arquitetavam a estratégia jurídica e militar para implantar o golpe e manter Bolsonaro no poder.