“A gente se vê nessas histórias, reflete e muda pensamentos”. Assim resumiu uma interna do EPFRSAAA-CG (Estabelecimento Penal Feminino de Regime Semiaberto, Aberto e Assistência ao Albergado de Campo Grande) o impacto do projeto ‘Conversas com Cinema’. O cineclube, que transcende a simples exibição de filmes, proporciona acolhimento, reflexão e novas oportunidades para mulheres em regime de reclusão.
O projeto, idealizado pela produtora cultural Geiciane Feitosa e Lukas do Nascimento, surgiu de uma experiência universitária e hoje transforma a vida de dezenas de mulheres privadas de liberdade. Iniciado em janeiro e previsto para ser concluído em fevereiro, o projeto é financiado pelo Governo do Estado por meio da Setesc (Secretaria de Estado e Turismo, Esporte e Cultura) e da Fundação de Cultura, com base na Lei Paulo Gustavo. A ação também foi realizada no ano passado com financiamento municipal.
Durante a graduação de Geiciane em Cinema e Audiovisual na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), seu trabalho como estagiária voluntária no sistema prisional despertou nela o desejo de aprofundar a ação. “Vi como elas se envolviam com as histórias e percebi o potencial do cinema como ferramenta de ressocialização”, conta.
O ‘Conversas com Cinema’ tornou-se seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e, com o apoio de Lukas Nascimento, foi inscrito na Lei Paulo Gustavo Estadual, garantindo recursos para sua realização. O financiamento do Governo de Mato Grosso do Sul e do Ministério da Cultura permitiu a compra de equipamentos, alimentação para as sessões e a contratação de profissionais para dialogar com as internas.
Sessões que Tocam Vidas
Funcionando como um cineclube, o projeto prioriza produções do cinema nacional que dialogam com as experiências das internas. Após as exibições, os debates proporcionam um espaço para que as mulheres compartilhem suas impressões e façam conexões com suas próprias vivências.
“Nosso objetivo é criar um ambiente sensível e compreensivo, onde elas possam falar livremente, se expressar e sentir que fazem parte de algo”, explica Geiciane.
Este ano, já foram exibidos filmes como Sai da Frente (1952), Dona Lurdes – O Filme (2024) e Rio, Zona Norte (1957). A escolha das obras é adaptável, considerando a recepção e os interesses das participantes. Cada interna recebe remição de um dia na pena a cada 12 horas envolvida na atividade, além de uma nova perspectiva para o futuro.
Um Futuro Além das Telas
O sucesso do projeto inspira os organizadores a expandi-lo para outros espaços de vulnerabilidade social. “Nosso desejo é que mais mulheres tenham essa oportunidade. O cinema transforma, ensina e pode ser o primeiro passo para uma nova caminhada”, reflete Geiciane.
Assim, com histórias que inspiram e emocionam, o ‘Conversas com Cinema’ demonstra na prática que a cultura tem o poder de ressignificar vidas, revelando um universo de possibilidades dentro de cada interna. O cineclube também se soma a outras iniciativas educacionais do presídio, como remição de pena por leitura, palestras e rodas de conversa com psicólogos.