Hoje é um dia histórico para Campo Grande. As eleições de 2024 já têm seu lugar reservado nas páginas da história da nossa capital. De um lado, uma mulher; do outro, também uma mulher. Adriane Lopes e Rose Modesto se enfrentam nas urnas e, independentemente do resultado, já se consagram vencedoras.
E não se trata de um clichê ao dizer que o importante é participar, mas sim de uma análise feita por quem vê a história pela ótica feminina. Para aquelas que sempre fizeram parte da luta pelos direitos das mulheres, que buscaram e conquistaram, com muita dificuldade, um espaço em um ambiente tão masculino quanto a política, ver duas mulheres na disputa é uma grande vitória.
Embora nenhuma das duas se assuma como feminista, quem enfrenta diariamente o machismo sabe que foi graças ao feminismo que Adriane e Rose estão, hoje, nesta posição histórica.
Cada uma delas possui seus próprios predicados e histórias, assim como defeitos e vicissitudes.
Adriane disputa sua primeira eleição, uma vez que era vice-prefeita e assumiu o cargo no lugar de Marquinhos Trad, que saiu para disputar o governo em 2022. Na cadeira, enfrentou críticas e se tornou alvo de comentários maldosos por ser “da igreja”, ter um marido que também é político e ser “acusada” de permitir que o esposo palpitem na prefeitura.
Isso mostra que, mesmo entre duas mulheres, a disputa teve, sim, machismo, já que o apelido “Janjo” surgiu como uma comparação jocosa com a primeira-dama Janja Silva, esposa do presidente Lula. Mas quem é casado e não conversa com o parceiro sobre trabalho, tem que rever o casamento, né?
Rose, por sua vez, possui vasta experiência política e já enfrentou várias eleições. Em 2016, teve que ouvir comentários sobre seu lindo cabelo preto. Em 2022, disputou com bravura o governo do Estado. Neste ano, sua orientação sexual foi colocada em xeque e ela foi “acusada”, pasmem, de não ter família.
Ou seja, é evidente que a mulher é sempre questionada: Adriane, por ter família; Rose, por não ter.
Em uma campanha marcada por ataques intensos e um clima tenso, ainda foi possível vivenciar momentos de alto nível, como o debate do Midiamax, que ficará registrado na memória.
Quando me perguntam qual delas eu prefiro, faço questão de dizer que meu sonho de princesa já está realizado. As duas no segundo turno.
Admiro Adriane por ter ressignificado sua própria vida, quando muitos diziam que ela sairia derrotada ou nem sairia candidata. Admiro Rose por nunca ter desistido, mesmo com tantos dizendo que ela tinha “acabado”.
E, em breve, saberemos o resultado. Seja Adriane ou Rose, Campo Grande terá, pela primeira vez, uma prefeita eleita.
Seja Adriane ou Rose, ambas são protagonistas de suas próprias histórias e abrem caminho para que outras mulheres possam sonhar com a cadeira do Executivo.
E viva as mulheres!
(Para a minha Ana Lara, ler no futuro e saber que eu também fiz parte dessa história).