Adriane Lopes, Camila Jara e Rose Modesto. Neste sábado (3), eventos políticos marcam Campo Grande, tendo à frente três nomes femininos que representam lideranças políticas e destacam as eleições da Capital.
Começo este artigo – de opinião e análise – lembrando que sou cria do patriarcado, porém uma mulher que luta contra ele.
Não me lembro de ter vivido uma eleição onde a presença feminina fosse tão forte em quantidade e qualidade.
E justamente por ser mulher, me sinto com, digamos, licença poética para discorrer sobre nossas candidatas a prefeita, reforçando a possibilidade de uma mulher sentar “de vez” na cadeira do Executivo Municipal.
Falo “sentar de vez” porque, apesar de na história da cidade já termos tido Nelly Bacha por poucos meses como a primeira prefeita, ela ocupou o cargo nomeada pelo então governador Wilson Barbosa Martins.
Adriane, atualmente no cargo, disputou sendo vice de Marquinhos Trad e depois foi empossada quando ele, em uma aventura delirante, foi disputar o governo em 2022 e perdeu.
Por isso, hoje temos chances reais de termos uma primeira mulher definitivamente eleita para o cargo. E isso é muito bom.
Deitada em minha casa, ao lado da minha filha, penso que são mulheres importantes que abrem caminho para ela também.
E foi isso que me levou a escrever este artigo. Refletir sobre essas mulheres e a importância delas em uma eleição histórica.
Cada uma tem suas peculiaridades, virtudes e defeitos.
Adriane nunca tinha colocado o nome à prova, quando em 2016, tímida e desconhecida do grande público, foi apresentada como a “mulher do deputado Lídio Lopes”. Afinal, na busca da falsa paridade, muitos candidatos buscam um nome feminino para reforçar suas chapas. Com Adriane não foi diferente, e isso ouvi da boca do próprio Marquinhos.
Lembro de Adriane na ocasião em que ela assumiu pela primeira vez a prefeitura quando Marquinhos tirou férias em janeiro de 2018. Bem nesse período, aconteceu uma ferrenha polêmica da taxa do lixo, quando ela era a prefeita em exercício.
Em coletiva na Câmara Municipal, Adriane me chamou a atenção. Estava segura e ao mesmo tempo sentindo o “peso” de ser a prefeita. O período foi breve. Mas aconteceram várias outras vezes. Tanto que ela novamente foi escolhida vice.
Até que em 4 de abril de 2022 ela tomou posse.
Nesse dia falei com ela e lembrei das vezes que a vi sendo tratada com desdém por alguns colegas de imprensa e dentro do próprio grupo de Marquinhos.
Adriane é ponderada, fala baixo, tranquila, quase maternal. Mas daquelas maternidades perfeitas, sabe? De família de margarina? O que causa certo incômodo em muita gente.
Não raro as pessoas apontam justamente isso nela. Adriane é uma mulher conservadora. E isso não parece incomodar. Afinal, ela nunca se incomodou em ser chamada de “mulher do Lídio”.
E mesmo querendo usar o termo “empoderamento feminino”, já declarou não ser feminista (?) e faz questão de mostrar que é prendada e dona de casa. Seja por questões religiosas – ela é assembleiana -, ou por escolha própria. Afinal, é direito dela seguir o que a Bíblia prega de submissão feminina.
Um perfil que serve de memes e, claro, apontamentos não só de seus adversários, como também de aliados e dentro do próprio movimento de mulheres que usam, ora ora, o direito de escolha da prefeita em escolher ser o que quiser.
Recentemente ganhou mais um reforço feminino ao cair nas graças de Tereza Cristina, senadora que a pegou pela mão e amadrinhou uma Adriane que estava em jornada quase solitária pela reeleição.
Dos pontos negativos nessa história, é que com Tereza, além de correr atrás de Bolsonaro e ficar a ver navios, também recebeu no pacote um grande staff, totalmente masculino e “mandão”. Onde não raro, fazem comentários de que Adriane deveria “botar o pau na mesa”.
Seu mandato não tem a popularidade dos sonhos, mas, em uma visão pessoal, não deixa tanto a desejar quanto pintam. O arroz com feijão é feito e não, Campo Grande não é terra arrasada como pregam.
Mas será agora que ela testará não só seu nome diretamente nas urnas como também será protagonista de uma campanha onde a tendência é que ela seja o grande alvo dos opositores, que devem relembrar seu breve passado ao lado de Marquinhos.
Temos também a jovem Camila Jara. Camila nasceu no movimento petista. Apadrinhada por Delcídio Amaral lá nos idos de 2014, passou a ter projeção no movimento de juventude petista.
Bonita, de sorriso largo, descolada e falante, em 2020 foi eleita vereadora e se tornou uma promessa dentro da pífia esquerda sul-mato-grossense.
Lembro que quando Camila foi eleita vereadora, fui chamada para ensinar alguns edis a lidarem com uma feminista. Foi até engraçado ver eles preocupados com a chegada dela e depois aliviados em ver que a menina era isso. Uma menina.
No meio deles, Camila sempre foi tratada como uma menina. Com respeito, mas às vezes como se fosse café com leite. Até que ela mostrou a que veio.
Em 2022 se candidatou a deputada federal e, entre rasteiras e desagrados dos “putas velhas” de seu próprio partido, foi eleita. E com ampla votação em Campo Grande.
Naquele domingo liguei para ela e disse: “Guria, você entrou”. Ela parecia incrédula. E foi muito bom vê-la lá, tomando posse como deputada federal.
Camila não tem medo do embate. Mas ainda lhe falta a malemolência e a “maldade” da política. Em especial no partido, o PT, onde seus principais opositores são os esquerdomachos, que a aceitaram goela abaixo como candidata.
No geral já falaram do seu jeito, do seu corpo, até do seu casamento (?) e do fato dela ser petista e usar bolsas caras.
Mas não há outro nome no partido de Lula que hoje poderia disputar a prefeitura. E isso deve pesar na campanha. O nome do presidente é pesado em uma capital onde a maioria só xinga e enxerga defeitos nele. Além, é claro, da falta de experiência – na política e na vida, que alguns veem como defeito, mas que pode ser uma carta na manga.
O vice, Zeca do PT, ex-governador e hoje deputado estadual, imprime nome histórico, mas também prega para convertido. O que ele agrega para Camila? Só os eleitores vão poder dizer.
Seguindo a ordem alfabética, temos Rose Modesto. De Culturama para o mundo, a professora Rose foi forjada em ninho tucano, onde foi eleita vereadora por Campo Grande em 2008, reeleita em 2012 e, em 2014, disputou como vice ao lado de Reinaldo Azambuja e venceram.
Em 2016 disputou a prefeitura como candidata do PSDB. Oficialmente. Porque nos bastidores, quem sabe lembra, sofreu boicotes e infortúnios, perdendo a disputa no segundo turno para Marquinhos Trad.
Disputou uma vaga na Câmara Federal e foi eleita com votação expressiva.
Rose foi corajosa, se rebelou contra os tucanos e mudou de partido. No União Brasil, caiu nas graças de Antônio Rueda e foi para a disputa do governo. Apesar de perder, sou forte.
Naquele domingo, liguei para ela e falei: “E aí, vai ser candidata a prefeita?”. Rose se assustou e contou que iria tirar um tempo para ver qual rota faria.
Durou pouco. Por articulação do seu partido e de figuras fortes do próprio PT, assumiu a Sudeco, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo.
Babados políticos não lhe faltaram. Como o termo “morena mais bonita de Campo Grande”. Seu cabelo (que eu acho lindíssimo) é sempre alvo de comentários e, claro, especulações sobre seu estado civil.
Afinal, sempre arrumam um jeito de falar da vida privada das mulheres. Imagine na política.
Cada uma delas tem perfis diferentes e com certeza conquista parte do eleitorado. Assim como cada uma delas tem o “calcanhar de Aquiles” que deverá ser explorado na campanha.
Mas uma coisa não se pode negar: são mulheres de coragem.
E em outubro, Campo Grande vai responder: agora é que são elas?