“Graças a Deus eu não tenho essa índole”. Jamil Name Filho, que depois de quatro anos, pisou em solo sul-mato-grossense. Diante do júri que começou na segunda-feira (17) ele nega que tenha cometido crimes. Inocente de tudo. Segundo ele.
Entre os ingredientes de seu depoimento vão desde tarja preta, enfrentamento e a promessa que teria feito para o pai antes dele morrer.
No banco dos réus, ele é acusado de ser o mandante da execução do estudante Matheus Coutinho Xavier, 20 anos, em abril de 2019.
Seu depoimento foi cercado de declarações que soam até debochadas, para quem não souber quem é Jamilzinho.
Ele parece desdenhar da dor de Cristiane Coutinho, mãe da vítima e assistente de acusação, para quem chegou a pedir calma. E afirmou que “os filhos não precisam de carro blindado”.
A calma é um pedido desnecessário para quem está diante do mandante do assassinato do próprio filho.
Promessa
Figura considerada de folclórica a temida em Mato Grosso do Sul, Jamil Name, era quase que um “deus” no Estado. Quem tem mais de 30 anos entende a perplexidade quando ele e o filho Jamilzinho foram presos. Era algo inimaginável ver um Name no banco dos réus.
E isso fica claro também, na conversa revelada entre pai e filho, durante um banho de sol na cadeia em Mossoró (RN).
“O meu nome, Jamil Name, e o que eu fiz e construí a vida inteira. Prometa para mim que você vai limpar tudo isso que foi feito”, teria dito Jamil Name ao filho, Jamilzinho.
Deus
“Eu não fui o mandante nem da morte do Paulo Xavier, nem de ninguém. Graças a Deus, eu não tenho essa índole, como que eu vou dizer para o senhor, essa maneira de lidar com as coisas”, declarou ele, que também é acusado de mandar matar Marcel Colombo, o Playboy da Mansão, por uma desavença por causa de gelo.
No entanto, a denúncia do Ministério Público Estadual e depoimentos de delegados, Paulo Roberto Teixeira Xavier, o PX, era o alvo da execução, mas seu filho Matheus acabou sendo morto em seu lugar.
“De picolezeiro a governador”
A célebre frase de que promoveria “a maior matança de MS, de picolezeiro a governador” não foi negada. Mas segundo ele, dita num momento em que misturou frontal com cerveja. O tarja preta, de nome genérico alprazolan, teria sido fato para o que disse para a ex-esposa.
“Eu fazia um uso excessivo deste remédio, tanto que eu carregava na carteira. Esse remédio tinha um efeito rápido, me deixava tranquilo e calmo, mas depois eu passei a tomar ele com cerveja”, afirmou durante o depoimento confirmando os “boatos” da época, de que o filho do homem mais poderoso de Campo Grande vivia dopado.
Ex-gordo, Jamilzinho confirmou também a depressão, devido a bariátrica que fez quando era mais jovem.
Sobre Paulo Xavier, Jamilzinho contou que o conheceu depois do ex-capitão da PM ter saído da prisão, após ser detido por suspeita de contravenção. Nas palavras dele seria ilógico dizer que houve traição entre PX e a família Name.
“Guardinha”
Não era segredo para ninguém que membros da guarda municipal faziam parte do staff dos Name. Ao falar sobre o ex-guarda civil Marcelo Rios, Jamilzinho o tratou com expressão que é considerada uma ofensa para eles.
“Ele era um guardinha que fazia bicos”, minimizou.
Deu galo?
A família sempre foi conhecida por ser dona do jogo do bicho na cidade. Apesar disso, Name Filho negou envolvimento com a atividade. Segundo ele, seu ramo de atuação era outro.
“Eu não atuo no jogo do bicho. Eu atuei em empresa de promoção de loteria em Mato Grosso do Sul”, afirmou.
Jamilzinho se diz inocente. De tudo. Do bicho aos assassinatos. Passando pelo arsenal de armas encontradas em uma casa que ele diz que não era dele, apesar de ter a chave e mandar no local.
Fala com a veemência de alguém que sempre foi conhecido por “pintar e bordar” com mulheres peladas em cima das garupas de motos quando era jovem e sempre ter alguém “passando pano” para seus arroubos.
Até que além, de frontal, remédio para doido é um doido e meio. E não há ninguém mais doido que alguém que perdeu um filho. Cristiane Coutinho, e em que pese todo o histórico, PX, tiveram papel importante na cena histórica de Jamilzinho no banco dos réus.
Ficha técnica
A acusação é conduzida pelos promotores Luciana do Amaral Rabelo, Moisés Casarotto, Gerson Eduardo de Araújo e Douglas Oldegardo. Cristiane Almeida Coutinho, mãe de Matheus e advogada, atua como assistente de acusação no processo.